terça-feira, 4 de dezembro de 2012

A lesão vertebro-medular, dar a volta por cima!


Entrevista com:
Dra. Maria Ribeiro da Cunha


P.: Existem vários tipos de lesões vertebro-medulares, mas a verdade é que muitas delas são extremamente incapacitantes a nível físico. Na sua opinião, neste tipo de lesões, as equipas multidisciplinares constituem uma mais-valia efectiva para o doente? Em que medida?

R.: Uma Lesão Medular é uma patologia que tem sempre um impacto significativo na vida de uma pessoa, tanto a nível físico, como psicológico.
A complexidade e variedade de sequelas que dela podem advir implica que, para uma abordagem holística e uma reabilitação integral e abrangente do lesionado medular, o seu acompanhamento seja feito, desde a fase aguda até ao fim da vida, por um conjunto de profissionais de saúde com experiência na área. Toda esta equipa deverá dar o seu contributo e elaborar um conjunto de objectivos comuns que visam minimizar as consequências da Lesão Medular e promover a autonomia e a integração social, familiar e, se possível, laboral dos doentes.
A intervenção em equipa pluriprofissional (que deverá incluir Fisiatra, Fisioterapeuta, Terapeuta Ocupacional, Enfermeiro de Reabilitação, Licenciado em Desporto, Psicólogo, Assistente Social), e num centro especializado em Lesão Medular, torna-se assim fundamental para uma melhor e mais adequada prestação de cuidados de saúde a estes doentes.


P.: Muitas vezes é nas lesões mais graves que observamos uma maior dificuldade de aceitação da doença por parte do doente e dos familiares, sendo frequente recorrerem a meios menos convencionais de tratamento, colocando muitas vezes em risco a condição clínica do paciente. Que conselhos pode dar neste sentido?

R.: Qualquer profissional de saúde que preste cuidados a lesionados medulares deverá fazê-lo tendo em conta a mais recente evidência científica. A constante actualização nesta área é fundamental para o correcto aconselhamento dos nossos doentes. Assim, a orientação dada aos lesionados medulares deve ser sempre no sentido dos métodos com comprovação científica fidedigna, e sempre cuidando o esclarecimento das dúvidas que se nos coloquem, incluindo as relativas à segurança dos doentes.
Ainda assim, não nos devemos deixar influenciar pelas crenças, ética ou moral a termo pessoal e respeitar as opções do nosso doente sem que isso prejudique o processo de reabilitação.


P.: Atendendo à natureza de grande parte destas lesões, a readaptação à vida activa é um passo muito importante. Que dicas/conselhos poderá dar a um doente nesta situação? 

R.: Sem dúvida que a reintegração social e a manutenção de uma vida activa física e profissionalmente são dos componentes fulcrais na reabilitação de um lesionado medular. A readaptação laboral que é por vezes necessária pode ser realizada e as novas competências adquiridas tanto em centros de reabilitação como em instituições capacitadas para o efeito. É de ressaltar a existência de apoios sociais que poderão facilitar esta reintegração e que os doentes deverão conhecer.
Também o desporto adaptado, em qualquer que seja a modalidade, desempenha um papel de extrema importância para o bem-estar físico e psíquico dos doentes, tanto pelo exercício físico em si como pela sua vertente de promoção do convívio e estímulo cognitivo, de maneira que a sua práctica deve ser estimulada desde que não se verifiquem contra-indicações.
Associações de lesionados medulares são igualmente muito relevantes na prestação de informação a respeito dos direitos inerentes à uma determinada incapacidade.


P.: Para terminar, algum novo projecto de investigação nesta área que pensa merecer especial atenção? Ou sugestão de temas que seriam interessantes investigar no futuro?

R.: Existem diversos grupos de investigação básica e clínica a nível internacional que desenvolvem actividade científica de reconhecido mérito na área da lesão medular.
Actualmente, muitos dos trabalhos são desenvolvidos nas seguintes linhas de investigação: neuroprotecção, promoção do crescimento axonal e remielinização, restabelecimento de redes neuronais, e transplantes celulares e substratos terapêuticos.
Esperamos que o futuro traga um avanço positivo no que diz respeito ao tratamento da Lesão Medular, mas penso que muito importante também será apostar de forma “agressiva” na prevenção deste tipo de patologia que ainda é, em elevado número, devido a causas evitáveis.




 Dra. Maria Ribeiro da Cunha
Interna do 4º ano de Formação Específica em Medicina Física e de Reabilitação no Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro - Rovisco Pais

Licenciatura em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

Membro da Ordem dos Médicos Portugueses, Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação, International Society of Physical and Rehabilitation Medicine, European Society of Physical and Rehabilitation Medicine, Coordenadora da Secção de Internos da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação

Já publicou:
- Artigo de revisão a aguardar publicação na “Revista Internacional de Andrologia” com o título:A influência das prostatites crónicas do lesionado medular nas características do líquido seminal: dúvidas e verdades comprovadas”
- Artigo original a aguardar publicação na “Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação” com o título: “Protocolo de encerramento de traqueotomia em internamento em Reabilitação”
- Autora do capítulo: “A Medicina Física e de Reabilitação no Serviço de Cirurgia Cardiotorácica” no livro “Procedimentos em Cirurgia Cardiotorácica”, Lidel edições técnicas, Lda, Novembro de 2009; pp. 107-114


Sem comentários:

Enviar um comentário